8 de janeiro de 2007

Flagrante de Praia




Ela (jovem, linda, sozinha) acabou de passar óleo para bronzear nos braços, depois de passar nas pernas, no colo e no rosto. Olhou em volta. A pocos metros dela, sentado na areia, um homem lia um jornal. Ninguém mais por perto. Ela examinou o homem com cuidado. Tinha aliança? Tinha. Casado. Seus trinta, trinta e cinco anos. Não era feio, apesar do seu nariz um pouco comprido. Ela falou:

_ Por que você estava me olhando?

Ele virou-se para ela surpreso:
_ Falou comigo?
_ Por que você estava me olhando?
_ Perdão. Eu não estava olhando para você.
_ Por que não?

Ele riu, sem saber o que dizer.
Ela continuou:
_ O que você está querendo?
_ Eu? Nada.
_ Tem certeza?
_ Eu posso lhe assegurar que...
_ Nada mesmo?
_ Nada. Juro.
_ Você não estava imaginando que o destino deve ter nos colocado aqui, lado a lado na mesma praia, com alguma intenção? Você nem sonhou em me dirigir a palavra? Em me convidar para um programa? Em começar um caso?
_ Não. Juro que não.
_ Você me acha repelente?
_ Não. O que é isso. É que...

Lá vem confidência, Pensou ela. Ele vai me dizer que é homossexual ou impotente. Ou, meu Deus! Que a mulher dele morreu ontem! Mas ele apenas disse:

_ Olhe, a última coisa que eu quero agora é um envolvimento emocional, entende? Não me leve a mal. Você é uma garota muito atraente, mas eu simplesmente não estou a fim.
Perfeito, pensou ela. Só mais uma pergunta:
_ A sua mulher está por perto?
_ A minha mulher? Não.

Perfeito. Ela levantou-se, caminhou até onde ele estava, sentou-se ao seu lado e pediu:
_ Me passa óleo nas costas?

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