Numa noite dessas, entrei numa sala de bate-papo. Meu apelido: Alan/RJ - um pedacinho do meu nome e uma imediata localização geográfica: do Rio para o Brasil... câmbio.
Dialogo com algumas mulheres que, logo de cara, me fazem uma mesma pergunta: quantos anos você tem?
Mais importante do que o que penso e sinto, se tenho alguma religião ou o que estudei, se sou pai, se gosto das árvores e das águas do mundo ou se, ao contrário, espero o mar pegar fogo pra comer baleia assada.
Ninguém me perguntava se gosto de cinema, de música, de ver o pôr-do-sol ... parafraseando Saint-Exupery, através do seu Pequeno Príncipe: pra algumas pessoas, é mais importante o tamanho da minha casa do que a felicidade que sinto em estar dentro dela.
Outro dia, falei pra alguém que havia reencontrado a minha estrela na música, a Françoise Hardy, através da Internet. E ele, perplexo: ué, mas ela está uma velha, não? Sim, e daí? Estrela tem idade? Ela foi, por muito tempo, um colo em forma de voz, que embalava meu sono. Da mesma "idade" que o Chopin e a Enya.
Qual é a minha idade? Pergunto a mim mesmo. Faço de conta que não sei em que ano nasci e viajo nas minhas possíveis idades.
Antes de começar a rabiscar essas linhas, dancei, por umas duas horas, uma seleção de baladas do Elton John, de batidas rigorosas que embalam a voz africana de Yossour Nodour e da guitarra do Santana. Idade enquanto dançava? 25 anos.
Assisto a um jogo do Flamengo, que perde, novamente. Fico descabelado e agitado, como um garoto de 18 anos - aquele torcedor do Guarani de Juazeiro do Norte, uma pequena mas ruidosa nação rubro-negra.
Às vezes, falta um colo. Apenas por alguns instantes, volto aos doze anos e ao colo que nunca estava disponível. Outras vezes, reclamo e brigo com algum colega de trabalho.E ficamos com sete anos, no meio de nossos argumentos, que pretendem encerrar a discussão como se fosse um jogo de crianças: um perde, outro ganha. E se o desejo for maior do que a razão, a lata de leite condensado vira um delicioso peito, por onde escorre o líquido precioso...
Tempo, incessante palco da vida, sempre brincalhão, misturando papéis e cenas. Não é assim? Ou vocês não sentem vontade de brincar de roda, de vez em quando?
Quem não sonha, um dia na vida, em trocar os rígidos papéis da segurança afetiva por uma inocente brincadeira de maçã, pêra, salada mista, numa noite de luar?
Nesse tempo de estrada, tive alguns relacionamentos amorosos. Em alguns, fui maduro (será?), em outros fui criança, inconseqüente e, na quarta-feira de cinzas, até chorei como um velho sozinho, no final do carnaval. Algumas vezes, mais que amante, fui amigo, transcendi a idade.
Tenho uma filha, pequena companheira de jornada nos últimos nove anos. Tem momentos em que preciso me sacudir pra não trocar de lugar com ela. Em outros momentos, vem a ferrugem e é ela que me sacode: pai, vê se balança o corpo pra não parar no início da minha viagem. Concordo, prontamente, e saio correndo atrás do próximo bloco.
Já tive ilusões coletivas. Sonhei que todas as pessoas do mundo poderiam ser mais puras e amigas, alimentadas e felizes. Não foram os anos passados que me quebraram os sonhos. Foi a percepção da realidade de uma espécie incorrigível e doentia, o ser humano, que veio ao sol - com o aval divino, acreditam muitos - para destruir o planeta e as próprias utopias.
Exagero?
Também acho, por isso mantenho uma ponta de esperança em algum lugar do coração e uma porta por onde cultivo amizades e sonhos mais simples, possíveis.
Qual é a minha idade?
Depende da paixão, da música, da fogueira em torno da qual nos reunimos, do seu sorriso, do sabor de um beijo, da dança das árvores ao sabor do vento, da inspiração que nasce no meio da noite, da vitória do meu time e, por que não, do seu. Depende da sua alegria, de sua disponibilidade para me ajudar a encontrar, sempre, o bom caminho.
Paro de escrever e bebo um gole d'água.
Bebo e brindo à liquidez da vida. Eterna água, meu berço. Um dia, retorno.
Hoje, por mais um ano, agradeço ao abraço do universo, ao ar que respiro a aos frutos da mãe terra que me alimentam.
Minha idade é do tamanho - infinito - de um abraço.
O Nosso!
Aldo Cordeiro
Dialogo com algumas mulheres que, logo de cara, me fazem uma mesma pergunta: quantos anos você tem?
Mais importante do que o que penso e sinto, se tenho alguma religião ou o que estudei, se sou pai, se gosto das árvores e das águas do mundo ou se, ao contrário, espero o mar pegar fogo pra comer baleia assada.
Ninguém me perguntava se gosto de cinema, de música, de ver o pôr-do-sol ... parafraseando Saint-Exupery, através do seu Pequeno Príncipe: pra algumas pessoas, é mais importante o tamanho da minha casa do que a felicidade que sinto em estar dentro dela.
Outro dia, falei pra alguém que havia reencontrado a minha estrela na música, a Françoise Hardy, através da Internet. E ele, perplexo: ué, mas ela está uma velha, não? Sim, e daí? Estrela tem idade? Ela foi, por muito tempo, um colo em forma de voz, que embalava meu sono. Da mesma "idade" que o Chopin e a Enya.
Qual é a minha idade? Pergunto a mim mesmo. Faço de conta que não sei em que ano nasci e viajo nas minhas possíveis idades.
Antes de começar a rabiscar essas linhas, dancei, por umas duas horas, uma seleção de baladas do Elton John, de batidas rigorosas que embalam a voz africana de Yossour Nodour e da guitarra do Santana. Idade enquanto dançava? 25 anos.
Assisto a um jogo do Flamengo, que perde, novamente. Fico descabelado e agitado, como um garoto de 18 anos - aquele torcedor do Guarani de Juazeiro do Norte, uma pequena mas ruidosa nação rubro-negra.
Às vezes, falta um colo. Apenas por alguns instantes, volto aos doze anos e ao colo que nunca estava disponível. Outras vezes, reclamo e brigo com algum colega de trabalho.E ficamos com sete anos, no meio de nossos argumentos, que pretendem encerrar a discussão como se fosse um jogo de crianças: um perde, outro ganha. E se o desejo for maior do que a razão, a lata de leite condensado vira um delicioso peito, por onde escorre o líquido precioso...
Tempo, incessante palco da vida, sempre brincalhão, misturando papéis e cenas. Não é assim? Ou vocês não sentem vontade de brincar de roda, de vez em quando?
Quem não sonha, um dia na vida, em trocar os rígidos papéis da segurança afetiva por uma inocente brincadeira de maçã, pêra, salada mista, numa noite de luar?
Nesse tempo de estrada, tive alguns relacionamentos amorosos. Em alguns, fui maduro (será?), em outros fui criança, inconseqüente e, na quarta-feira de cinzas, até chorei como um velho sozinho, no final do carnaval. Algumas vezes, mais que amante, fui amigo, transcendi a idade.
Tenho uma filha, pequena companheira de jornada nos últimos nove anos. Tem momentos em que preciso me sacudir pra não trocar de lugar com ela. Em outros momentos, vem a ferrugem e é ela que me sacode: pai, vê se balança o corpo pra não parar no início da minha viagem. Concordo, prontamente, e saio correndo atrás do próximo bloco.
Já tive ilusões coletivas. Sonhei que todas as pessoas do mundo poderiam ser mais puras e amigas, alimentadas e felizes. Não foram os anos passados que me quebraram os sonhos. Foi a percepção da realidade de uma espécie incorrigível e doentia, o ser humano, que veio ao sol - com o aval divino, acreditam muitos - para destruir o planeta e as próprias utopias.
Exagero?
Também acho, por isso mantenho uma ponta de esperança em algum lugar do coração e uma porta por onde cultivo amizades e sonhos mais simples, possíveis.
Qual é a minha idade?
Depende da paixão, da música, da fogueira em torno da qual nos reunimos, do seu sorriso, do sabor de um beijo, da dança das árvores ao sabor do vento, da inspiração que nasce no meio da noite, da vitória do meu time e, por que não, do seu. Depende da sua alegria, de sua disponibilidade para me ajudar a encontrar, sempre, o bom caminho.
Paro de escrever e bebo um gole d'água.
Bebo e brindo à liquidez da vida. Eterna água, meu berço. Um dia, retorno.
Hoje, por mais um ano, agradeço ao abraço do universo, ao ar que respiro a aos frutos da mãe terra que me alimentam.
Minha idade é do tamanho - infinito - de um abraço.
O Nosso!
Aldo Cordeiro
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